
foto by: Marília
Desceste a rua sem olhar para trás.
Fechei a cortina e em silêncio me deixei ficar.
As palavras presas rebentavam-me as têmporas numa dor reconhecida.
A garganta seca latejava seca.
Ergui o rosto, enfrentei a luz do dia que findava, desci as escadas, entrei no carro, liguei o CD onde as palavras
no love, no glory
ecoaram.
Conduzi o carro num percurso só meu.
Ao longe o pôr-do-sol num vermelho quente entra pelo mar adentro.
O ar quente e rarefeito invade-me as narinas, acelero um pouco, preciso de cheirar o mar intenso, salgado e fresco.
A praia invadida num Agosto quente mantém-se lotada de corpos em cujos rostos se reflectem as alegrias de um dia bem passado, o cansaço de um dia que acaba ou até a antecipação de uma noite partilhada.
Caminho por entre eles, desvio o olhar a cada rosto que me enfrenta.
A areia molhada faz-me perceber que a linha de água está na minha frente.
Derrubo-me na areia, ergo o rosto ao azul intenso, que no infinito luz num brilho hipnotizador.
A maresia, da noite que começa, cobre o meu corpo, os cabelos pintalgados de ténues gotas de água, os braços, as pernas, o rosto, as mãos que na areia procuram conforto.
Estou só.
Não penso em nada, em ninguém.
Despojada de tudo, e de todos, olho o horizonte expectante na busca de mim.
Quem fui?
Como vivi?
Quem quis ser?
Como teria vivido?
Quem quero ser?
Como quero viver?
Quem sou e como vivo?
A luta já foi cerrada e mortal, neste momento sobrevive dentro da mim. A derradeira batalha de uma guerra que não soube enfrentar e pela qual em determinado momento me perdi.
Sei apenas que uma parte de mim acabou por desistir de tentar viver, e nessa luta desigual perdi mais do que alguma vez acreditei ser possível.
E perguntei ao silêncio, quebrado pelo silvo das gaivotas que se achegam às redes da última pescaria do dia, se o que resta de mim é suficiente.
A resposta não me é devolvida.
O sonho continua menos ingénuo, menos crédulo mas ainda cheio de esperança.
Subo a praia.
Refaço o caminho de volta.
De Anónimo a 5 de Setembro de 2005 às 09:51
Recomeçamos sempre com um pouco menos de inocência. Que a esperança saia pelo menos ilesa.
Sabe bem ler-te de novo:)!! elisa
(http://silenciofala.blogspot.com)
(mailto:elisaantunes@iol.pt)
De Anónimo a 4 de Setembro de 2005 às 14:33
O mar com o seu infinito é sempre um bom lugar para reflectirmos na nossa "viagem" o nosso percurso, faz-nos sentir connosco. João Norte
(http://intro.vertido.weblog.com.pt)
(mailto:j.norte@netvisao.pt)
De Anónimo a 2 de Setembro de 2005 às 12:27
O sonho será sempre sinónimo de esperança, nem que seja para voltar a sonhar de novo.alfa69
(http://daquidali.blogs.sapo.pt)
(mailto:aalmas@marbosserra.pt)
De Anónimo a 1 de Setembro de 2005 às 23:49
Muito descritivo...senti-me eu a viver.
Bom regresso...agora vou eu.
Um beijo
orfeu
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De Anónimo a 1 de Setembro de 2005 às 20:32
Ficcao ou realidade, o teu texto é muito bom. E termina de uma forma posititiva. Gostei imenso de te mer, uma vez mais... Beijinhos.NILSON
(http://nimbypolis.blogspot.com)
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De Anónimo a 31 de Agosto de 2005 às 19:02
A última dor física ou da alma parece ser sempre a pior, a que nos faz desistir. Mas amanhã é outro dia e o que hoje nos parece ser o fim é, muitas vezes, mais um recomeço. A vida é feita de ilusões e desilusões e umas sem as outras não existem.
P. S. Fizeste-me uma visita e foste de férias. Bom regresso.
José S.
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De Anónimo a 31 de Agosto de 2005 às 14:48
Gosto de te ver de regresso... :-)Carlos Tavares
(http://o-microbio.blogspot.com)
(mailto:carlos.roquegest@mail.telepac.pt)
De Anónimo a 31 de Agosto de 2005 às 11:49
há muitas perguntas para as quais procuramos resposta...e a maioria nem é sobre o que nos rodeia mas sobre nós próprios, porque temos de saber quem somos antes de conhecer a natureza. acho que não há resposta para muitas delas...ma sno fundo sentimos quais são...1001 beijitos..Pensamentos em Branco.
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(mailto:anakatcc@hotmail.com)
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