(foto: Martin Klepcki)
Um dia quando eu for grande quero deitar a cabeça no sossego alvo da minha almofada, fechar os olhos, e sentir que está tudo bem.
Nesse dia vou relembrar o cheiro do teu pescoço quente, das tuas mãos suaves, da tua face doce, do toque da tua pele morena e tão suave que faz lembrar a seda.
Depois vou ouvir as tuas palavras, sentir o tom da tua voz e recordar com saudade a forma como me chamavas.
Vou recordar a primeira vez que te vi e amei.
Vou sentir a primeira vez que te peguei.
Vou saudar o primeiro choro que te ouvi.
Vou chorar pela dor que senti quando a tua boca tocou o meu peito.
Vou sorrir pelos sorrisos que me deste.
Vou lembrar as gargalhadas que partilhámos.
Vou
E depois abro os olhos, e na minha frente estarás tu!
Mulher feita, filha muito amada que com olhos tristes me afagarás o rosto, sem perceberes que a saudade que me aperta o peito vem desde aquele dia em que nasceste, rasgando as minhas carnes, num choro perfeito de vida.
Pois, ali naquele instante, nasceste única, forte e decidida, não me restando sequer a veleidade egoísta e maternal de algum te achar minha.
E então, nesse leito do descanso final recordarei também outros momentos de saudade, como aquele que vivo hoje, véspera da tua partida, como escuteira de uma vida pequenina.
E como fico feliz de saber deixar-te ir, mais feliz serei sempre que te vir voltar, pois ainda faltam muitos segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses e anos que me permitirão usufruir da tua existência e confortar-me com o teu olhar meigo e doce.
Para ti, minha filha, apenas desejo que vivas o que quer que o sonho te faça procurar, e na certeza de que ao teu lado, acompanharei o teu caminho.
E no dia em que deixares de me ver, saberás que olharei sempre por ti.
...
- Amo-te muito!
- Também te amo Mãe!.
- Eu amo-te mais ainda, Filha!.
Pronto, Mãe tá bem!!!!... Agora já posso ir? impaciente e um pouco envergonhada respondes-me
Vai linda grito para o autocarro apinhado (enquanto baixinho os meus olhos pedem Volta depressa minha menina!).