Terça-feira, 20 de Setembro de 2005

Resistir (sem data de regresso).



No silêncio das palavras escritas existem segredos, encontros e desencontros.

Acredito, que, em muito do que escrevemos existem gritos de socorro, desabafos, declarações de amor, descrições de momentos felizes.

Sei que poucas vezes conseguimos fazer passar a nossa verdadeira história, que não tem de ser necessariamente a nossa, mas aquela que queremos contar.

Nessas tentativas, tantas vezes infrutíferas, temos a felicidade de encontrar outras palavras, outros momentos e outras pessoas, que não sendo iguais a nós, souberam em determinado momento tocar-nos no nosso mais intimo “eu”.

E no desconhecimento virtual deste novo mundo partimos à descoberta dos outros, das suas palavras, das histórias que contam.

Histórias que nos encantam, que nos fazem chorar, outras em que rimos, outras ainda que nos fazem pensar, e existem as histórias de amor. Não as que lemos, ou até que escrevemos, mas as que criamos e vivemos enquanto personagens, mais ou menos reais, deste mundo feito de e nas histórias.

As emoções que vivemos nesta troca de palavras, frases, pensamentos fazem-nos sentir mais a vida, muitas vezes como refúgio de outra que não nos deixa ser quem somos, ou até quem quereríamos ser.

Já me apaixonei por textos, pelos seus autores, homens e mulheres sábios, constantemente à procura de vidas novas (as deles, e as que criam para nós) e que, soberbamente, assumimos como nossas, deixando-as entrar na nossa mente, corpo e espírito, assumindo assim um novo mundo, novas histórias, que já não são só deles, e muitos menos apenas nossas.

Nesta partilha ocorrem momentos inesquecíveis, de ligações extremas e inexplicáveis, seja pela leitura que outros fazem de nós e dos nossos escritos, seja pelo comentário que fica e que nos “obriga” a responder, numa tarefa quase compulsiva e sempre muito pessoal.

Enquanto escrevo estas palavras lembro-me daquele homem, que provavelmente lerá estas palavras, que num determinado dia entrou por mim adentro e me deixou abananada pelo muito que leu de mim, e recordo, sempre, o contacto directo, ainda que virtual, que estabelecemos e que nos fez conhecer um pouco mais de cada um.

Foram momentos de partilha intensa, numa descoberta quase infantil de temas, sonhos e (des)gostos comuns, a uma velocidade tão grande como o sonho de um novo amor. Depois foi o pousar os pés na terra e perceber que o nosso mundo, o dos adultos, é muito pouco sonhador, e nada solidário com homens e mulheres frustrados, encaminhados, e sempre responsáveis.

E nesse regresso à terra perdemos um pouco de nós, da ingenuidade e do sonho que ainda sobrevive no nosso peito e na nossa alma. E o “Adeus” sempre difícil e dolorido torna-se premente, senão em palavras (porque a coragem não é tanta assim), em atitudes desafiantes de um silêncio ensurdecedor.

Será que vale mesmo a pena lutar por um novo prazer encontrado na escrita, que mais do que um desafio é já uma necessidade?

Não tenho resposta.

Nem sei se algum dia terei, espero, no entanto, não desistir sem lutar.






publicado por eu34 às 13:48
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24 comentários:
De Anónimo a 20 de Setembro de 2005 às 20:55
Bom, quem pode dizer que nunca foi ferida? Quem pode dizer que nunca feriu? Acho que a solução está na aprendizagem, no saber lidar com estas situações. Gostei do post, Vou voltar mais vezes... JinhosPerfect Woman
(http://perfectwoman.blogs.sapo.pt/)
(mailto:perfect_woman63@sapo.pt)
De Anónimo a 20 de Setembro de 2005 às 17:49
Com toda a minha ingenuidade… como é costume, só posso dizer >> entendo-te mais desta vez do que das outras vezes, e sempre te entendi bem penso..
Até
Daniel
(http://seedsof.blogspot.com)
(mailto:seedsof@hotmail.com)
De Anónimo a 20 de Setembro de 2005 às 15:22
Se temos perguntas, então as respostas aparecem em quem encontramos...
BeijoMistério
(http://portabrir.blogspot.com)
(mailto:portabrir@hotmail.com)
De Anónimo a 20 de Setembro de 2005 às 15:16
Querida Eu33
Tens razão. Há lanças que nos atravessam o peito, mas não ficam cravadas e a ferida cicatriza depressa. Contudo, há pequenos punhais que se alojam na alma, que permanecem como chagas abertas, que nos fazem sofrer, mas, simultaneamente, é com esses contactos que se estabelecem amores e desamores que gostamos de viver.
Um beijo
DanielDaniel Aladiah
(http://www.aladiah.blogspot.com)
(mailto:aladiah2005@hotmail.com)

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